quinta-feira, 1 de outubro de 2009

5 MESES DO ACIDENTE...

Hoje completam-se 5 meses do acidente do Jorge. Damos graças a Deus, pois ele continua avançando. Ele tem feito muitas conquistas ao longo deste último mês e muitas coisas já consegue fazer sozinho, com a devida orientação e acompanhamento. Ele já demonstra, eventualmente, algumas iniciativas como pedir para "tomar um ar", dizer que está com fome e pedir para ir ao banheiro. Amados amigos e familiares, o Jorge continua lutando, nós continuamos clamando!
Sabemos que tudo que o Kiki já conquistou até aqui representa muito no quadro dele; porém, em nossos corações, passam os mais variados sentimentos. Ora vibramos, ora nos desesperamos, ora nos alegramos, ora desanimamos... Gostaria de compartilhar com vocês, abaixo, a tentativa de colocar todos estes sentimentos em palavras:

PENSANDO NO KIKI, ABRINDO O CORAÇÃO

Os dias vêm e vão, com todos os seus horários e compromissos,
Absurdamente seguem...
Como se tudo continuasse normal.
É o fluxo natural e... cruel da vida.

Acontece que num dia de muita alegria
O improvável destino, sempre incerto, tantas vezes inconveniente,
Entrou como um intruso e nos tirou o chão...
Veio com tudo e trouxe o medo, a angústia, a dor, a incerteza,
A impotência diante dos acontecimentos...

Não, o destino não ceifou sua vida.
Ele continua presente, continua entre nós,
Mas dolorosamente ainda tão ausente...
Estranho estar com ele e sentir tanta saudade dele!

Vê-lo e não sentir o seu verdadeiro olhar...
Estar ao seu lado e não sentir a sua sempre agradável companhia...
Ele, que não economizava carinhos,
Não titubeava diante de uma oportunidade de dizer o quanto amava cada um,
vibrava ao estar rodeado dos amigos e da família.

Perguntar “porque” é inevitável,
Perguntar “para que” é difícil, pois
Humanamente, não conseguimos nem considerar uma resposta cabível.
E o exercício de confiar e esperar em Deus se faz necessário...

Ah, Senhor, perdoa-me pelas tantas vezes em que perco a fé
E fico te dizendo que ele não merecia essa sorte,
Argumento contigo que ele amava a vida, que ele precisa de uma nova chance e insisto te pedindo que afaste dele o cálice das sequelas...
Mas como preciso ser forte para considerar que a minha vontade pode não ser a Tua vontade...

Quero pensar e falar como Jó, que disse:
“Acaso aceitaremos o bem do Senhor e não o mal?”
Afinal, a vida até aqui vinha sendo, basicamente, perfeita.
Estaremos preparados para enfrentar tão triste provação?

Ah, Senhor, quão frágeis somos!
Ao mesmo tempo, somos uma máquina complexa que,
Apesar de todos os recursos da era pós-moderna em que vivemos,
Não temos solução para um cérebro machucado.
Tão avançados e inteligentes e tão limitados...

Sim, temos o nome completo do problema,
Rebuscado, explicativo e técnico:
Lesão Axonal Difusa!
“O que você pode fazer, doutor?” “Só esperar...”
“O que a medicina oferece nestes casos?”
A resposta é sem delongas: “Nada.”

Tão avançados e inteligentes e...
tão limitados diante da complexidade da Tua criação!
“E agora?” perguntamos.
“E amanhã?” “E depois?”
Perdemos a ilusão de estar no controle.
Ganhamos a oportunidade de Te buscar, de confiar
e nos fortalecermos em Ti.

Só mesmo em Ti conseguiremos renovar nossas forças,
Diante da saudade, da tristeza de vê-lo tão... “não ele”,
Da tragédia de tempo indeterminado;
Precisamos da Tua misericórdia e da Tua compaixão, Senhor!

Na esperança de que tudo isso um dia vai passar,
Que um dia estarei junto com ele na Tua presença, Senhor,
E ele terá, então, um novo cérebro,
Por enquanto, parafraseio a oração de Habacuque, dizendo:

Mesmo o Kiki não voltando plenamente
E não havendo recursos na medicina para ajudá-lo.
Mesmo falhando todos os nossos esforços
E a dita “neuroplasticidade” não fazendo a sua parte a contento,
Ainda assim eu exultarei no Senhor e me alegrarei
No Deus da minha salvação.

E, em Deus, nosso amor será suficiente,
E Ele nos dará a paz que excede todo o entendimento,
E seremos capazes de suportar tudo isso junto com o Kiki,
Não importando até onde ele chegará...

Te amo muito, meu irmão querido!
Sempre contigo,

Dê.