domingo, 5 de janeiro de 2014

Jorge Metzler e Michael Schumacher

Acompanhando o drama de Michael Schumacher, passa um filme em minha cabeça e lembro do drama que vivemos junto ao Jorge, meu querido irmão...

O Jorge também ficou em coma induzido, não precisou de cirurgia e, dadas as condições ideais, recuperou-se de todas as suas lesões por conta própria. Maravilha! Depois que ele se estabilizou, o neurologista decidiu tirá-lo da sedação e, então, a expectativa era de vê-lo acordar. Passado um prazo hábil, ele não acordou e então, a suspeita pior > a possibilidade de uma lesão cerebral maior. "Vamos fazer uma Ressonância". O resultado veio com nome e sobrenome > Lesão Axonal Difusa (grau 1, com pequena sombra no tronco cerebral o que, para alguns médicos, já seria grau 2, sendo grau 3 o mais grave). Parte mais atingida? Lobo frontal direito. O que isso afeta? É a área de organização, do pensamento, da memória, a parte cognitiva...

Conclusão: o Jorge sobreviveu, teve que reaprender tudo desde o simples ato de engolir e não se engasgar, recuperou praticamente 100% a parte física (o caminhar dele é um pouquinho trôpego), sua fala tem melhorado muito com o tempo, mas...

A vida dele mudou completamente! Tornou-se um adulto que depende de orientação, de atenção, de alguém constantemente organizando a vida, o dia, a rotina dele. Também, perdeu sua vida profissional, seu casamento acabou e recebe visitas esporádicas dos seus filhos... as quais, por sinal, o deixam muito feliz!!! Sua vida, hoje, é uma rotina de atividades que visam estimulá-lo das mais variadas formas, rotina essa orquestrada e viabilizada pelos nossos pais. Os amigos? Também sumiram...

Mas, voltando novamente ao Schumacher, me pergunto que tamanho terá a tragédia dele? O quanto tudo isso afetará sua vida como um todo, se ele vier a sobreviver? Porque, assim como o Jorge nesse estágio, ele ainda luta por sua vida! Será que todo o dinheiro que ele tem será suficiente para que as pessoas, que hoje pertencem à sua vida, não o abandonem? Qual tragédia será a maior, a física ou a humana? Digo isso porque, entre outras coisas, após dois anos do acidente do Jorge, chegou ao nosso conhecimento a declaração escrita de alguém muito próximo a ele, que dizia "a verdade é que o Jorge faleceu há dois anos atrás e ponto final!" Sim, chamo isso de tragédia humana, quando uma pessoa que não está mais apta a servir, não serve mais, é considerada morta, sem aspas!

Enfim, faço essa reflexão, pois o mundo está vendo essa grande tragédia do Schumacher e eu, Denise, e toda a minha família, acompanhamos todo um desencadear de tragédias na vida do Jorge ao longo destes quase cinco anos. Assisto às notícias, reflito e pergunto mentalmente: Schumacher, será esse acidente apenas o início de sua tragédia?

Contudo, para terminar, quero compartilhar que, dentro do seu quadro, o Jorge está indo muito bem. Alguns sustos, às vezes, acontecem; dificuldades existem, afinal, o temperamento de uma pessoa com lesão cerebral fica alterado e o humor muda muito rapidamente. Por outro lado, ele ajuda em muitas coisas e se faz útil de diversas formas. Enfim, o Jorge, apesar de ter sido declarado morto (Nunca pelos médicos!), está bem vivo e continua na luta!